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Não estou muito habituado ao ritmo de postagens, ao ritmo "web" de ser, porém estou habituado a me aproximar cautelosamente das palavras sem que elas se firam e firam quem as ouve. Caso algém queime com as palavras ouvidas ou ditas nos textos postados, é porque tem um combustível que se liga ao desejo de mudança.

quarta-feira, 2 de março de 2011

OUVIR A ALMA

Ouvir o audível é responsabilidade de todo o ser humano. Porém ter a possibilidade de escutar o inaudível e fazer deste, uma ferramenta para aproximar-se da alma humana é responsabilidade da psicologia e sua sabedoria. Pode-se perceber que o sábio T’ai, precisou de tempo, treino, e, sobretudo dotar-se por uma atenção jamais vista.  As entrevistas psicológicas e a psicologia de forma geral precisam ouvir os sons que a alma anseia em dizer, para isso é necessário treino e dedicação.

O entrevistador a fim de saciar uma questão psicológica e psicopatologia precisa abster-se dos sons audíveis, ele precisa compreender que as pessoas não têm facilidade de falar de seus problemas e por isso é necessária uma outra forma de escuta, uma escuta mais acolhedora, mais atenta e, sobretudo mais detalhada. Cabe-nos reforçar que se encontram muitos métodos para encontrar processos prontos e direcionados de escuta, entrevistas diretivas e, sobretudo formas de mascarar o sofrimento do outro, porém a sabedoria da psicologia se interessa pela liberdade de falar de um sofrimento, ouvir um sofrimento, ouvir os sons da alma de maneira diferente.  Pode-se perceber que o sábio gastou um tempo de um ano para decifrar os sons da floresta e não conseguiu chegar ao objetivo, mas gastou somente alguns dias e noites para se atentar à verdadeira essência do som, isso nos é válido para compreender que o que importa não é o tempo gasto para desenvolver esta habilidade, mas sim a qualidade do método e da atenção dada a um sofrimento. É necessário ainda citar que qualquer sofrimento é o sofrimento do paciente, qualquer queixa por menor que seja, é o que faz o paciente se debruçar no sofrimento por isso ouvi-lo como se o seu “máximo” também fosse o meu “máximo”, assim conseguiremos aproximar da sabedoria do rei, que consegue escutar aquilo que as demais pessoas não ouvem, consegue ler a alma através de sua humildade e compreensão e sabedoria.

Ruben Alves psicanalista,  escritor e teólogo também nos faz pensar na possibilidade da escuta como forma de encontrar em nós um espaço de silêncios, um espaço que será preenchido pelo que escutamos. Ressalta a importância dada à escuta no mosteiro da Suíça onde passou por um tempo, e nos afirma que escutar é ter a capacidade de se esvaziar pelas miudezas que as idéias filosóficas nos enchem, ou seja, abrir mão das interferências dos métodos prontos de pensar. Podemos entender a função da psicologia em entrevistar ou da psicopatologia em organizar sintomas no momento em que se ouve o sofrimento. Rubem Alves assim como o sábio rei nos mostra uma forma de olhar para o outro como sendo único em sua queixa, sendo singular em seu problema e, sobretudo com a grandiosa importância de ampliar a nossa escuta para além daquilo que ouvimos. É compreender que no silêncio se ouve coisas, e estas estão dotadas de emoção e sentimento, mas para isso é necessário se esvaziar do mundo, se esvaziar das questões prontas e viver cada momento como sendo uma nova oportunidade, de escuta, de percepção.

A psicologia batalha para isso, a psicopatologia busca este entendimento, mesmo que para compreender esta essência seja preciso abrir mão dos métodos convencionais, e assim como diz Rubem Alves: “aí agente que não é cego abre os olhos” dando-nos a possibilidade de ver para além do que se mostra, e “abre os ouvidos”,  escutando  para além do que se  ouve.A psicologia está aí, lutando para enfatizar esta escuta, uma escuta que não requer muita cerimônia, uma escuta que não precisa de lugares faraônicos, uma escuta que em sua simplicidade consegue atingir toda a alma humana.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana" (Carl Gustav Jung)

Matheus Henrique

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